Uma voz feminina no seu caderno de desenho me chamou a atenção.
Uma voz de linhas suaves, diferente do peso da sua mão e da minha. A voz doce e desconhecida de uma terceira pessoa. Quanto à mensagem, nada de mais. Só mais uma dessas despedidas despojadas, pós-modernas... secas.
Cartas de despedida são o ovo-cósmico da arrogância. Graças a Deus nunca recebi nenhuma. Mas as que escrevi, sem jamais entregar, eram bem assim: arrogantes. (Um motivo justo para não tê-las remetido.) E para mim deveria ser indiferente se aquela letra ecoa ali há um ano, dois ou três. Nunca saberei se o raio desta memória um dia tatuou sua carne ou cicatrizou como um arranhão. (E olha que hoje em dia, nem se fala mais em cartas.) Nunca tinha visto carta de despedida que não fosse minha. - As cartas que nunca entrego porque tenho ciúmes de mim. Senti alguma satisfação em ouvir a letra te colocando docemente no seu devido lugar, sussurrando um golpe tão lógico e fatal quanto um cheque-mate. Virei
fã e senti invejinha daquele espírito sagaz.
Também eu queria poder traçar algum nexo esclarecedor a respeito de nós. Mas por hora, prefiro me abster. Sou brega demais para administrar essa angústia cool pós-modernosa.
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