sábado, 12 de agosto de 2017

Terapia Coletiva do Grito em Público - uma nova proposta para canalização do ódio

  No regime de escravidão omissa em que vive a maioria dos brasileiros, todo o stress e ausência de sentido (afinal, qual é o sentido da existência, se na prática você é um escravo?) é somatizada em algum lugar da nossa massa cinzenta e, invariavelmente, canalizada e jorrada em forma de ódio sobre quem não deveria.
  É um ódio que todos devemos admitir.
  Por isso, ao invés de gritar com o motorista da frente, a namorada, a mãe, o dog, o peixe, as pessoas que estão abaixo de você na pirâmide social (...), poderíamos adotar uma nova norma coletiva de canalização do ódio. Por exemplo, a terapia coletiva do grito em público - em lugares determinados - uma resposta absurda ao nível do absurdo que nos é diariamente imposto.
  Alguém grita de ódio num lugar público, lançando a semente da revolta. Qualquer um, quando se sentir angustiado naquele lugar predeterminado, poderá gritar um palavrão em público. (Somente palavrões e vogais são permitidos, e somente durante o dia). Quem se incomodar com o barulho poderá, também, se juntar ao côro e lançar sua fúria terapeuticamente aos ares.
  Então, contando com o humor, a solidariedade e a grande capacidade de aglutinação induzida inerente aos brasileiros, finalmente teremos gente gritando nas ruas de novo!

Lugares pensados na pressa para 2017

- Avenida Paulista
- Faria Lima
- frente da prefs de SP
- Frente do mausoléu do Temir
- Brasília s2



Apropriem-se como quiser e fiquem livres para acrescentar.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Marginal


Segue a tarde iluminada no campo. Não vejo ninguém, além de mamãe, há dias.
Enquanto isso, sei que na cidade o Sol continua aquecendo o concreto, e o concreto sufocando as pessoas de cara cansada que caminham até os vagões. E a verdade de mentira continua segregando o discurso dos loucos. E as pessoas continuam esquentando com as bobagens que alguém elegeu como importantes. Enquanto o que realmente importa permanece para sempre oculto, bem como a verdade por trás das coisas (que, até hoje, ninguém pôde me explicar qual é). É inútil falar. Só é ouvido quem tem voz; as massas não podem brincar de falar o que pensam. E quando podem, repetem o mesmo discurso de sempre - a única coisa que sabem dizer por terem ouvido a vida toda. 
Resta às massas: rendição ou morte. 
Em vista disso, venho tentando esboçar, entre uma coisa e outra, um desastroso “caminho do meio” - que nada tem de budista, muito menos de ameno. Venho equilibrando em malabares: trabalho por subsistência, ócio, leituras inúteis, desenhos que não dizem nada, boemia, andanças a ermo e cartas que não vou te entregar. 
Aguardo o momento em que, como todo proletário, terei que escolher entre a rendição ou a morte. Não a morte física, mas a condenação à loucura pela verdade de mentira. Também chamam isso de marginalização; o extremo oposto do ideal para o qual a massa proletária é educada (a normalidade pressupõe a aceitação da idéia de meritocracia, a vontade geral de “subir na vida”, o culto à mercadoria...). Mas a idéia de aceitar a marginalização vem se tornando cada vez mais sedutora. Gera em mim, mais que a vertigem, o desejo da queda. 
Meço distâncias, peso as penas e penso, todas as noites, em pedir divórcio da normalidade.
agosto de 2014

domingo, 6 de abril de 2014

esperança

Abraço meus erros e aguardo o sinal, dia após dia.

Espero (espreito) com a devoção de um falso profeta; os ouvidos se aguçam no vácuo silente.

Enquanto eu não souber o caminho, me sentirei só.

Minha alma está no aguardo, com a mesma entrega que guardo aos filhos que ainda não tive, e deambula por lugares errados, à procura.

Em certa busca, ouvi a imagem de Nsa. Senhora pousar numa asa de mariposa.

(Tentei prendê-la, e pessoas se zangaram. A santa me fugiu, fiquei confusa...)

Ainda não era este o sinal.

Minha alma está no aguardo.

Enquanto espero, sigo abraçando meus erros, desgastando a vida, lapidando a morte.