segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
Marginal
Segue a tarde iluminada no campo. Não vejo ninguém, além de mamãe, há dias.
Enquanto isso, sei que na cidade o Sol continua aquecendo o concreto, e o concreto sufocando as pessoas de cara cansada que caminham até os vagões. E a verdade de mentira continua segregando o discurso dos loucos. E as pessoas continuam esquentando com as bobagens que alguém elegeu como importantes. Enquanto o que realmente importa permanece para sempre oculto, bem como a verdade por trás das coisas (que, até hoje, ninguém pôde me explicar qual é). É inútil falar. Só é ouvido quem tem voz; as massas não podem brincar de falar o que pensam. E quando podem, repetem o mesmo discurso de sempre - a única coisa que sabem dizer por terem ouvido a vida toda.
Resta às massas: rendição ou morte.
Em vista disso, venho tentando esboçar, entre uma coisa e outra, um desastroso “caminho do meio” - que nada tem de budista, muito menos de ameno. Venho equilibrando em malabares: trabalho por subsistência, ócio, leituras inúteis, desenhos que não dizem nada, boemia, andanças a ermo e cartas que não vou te entregar.
Aguardo o momento em que, como todo proletário, terei que escolher entre a rendição ou a morte. Não a morte física, mas a condenação à loucura pela verdade de mentira. Também chamam isso de marginalização; o extremo oposto do ideal para o qual a massa proletária é educada (a normalidade pressupõe a aceitação da idéia de meritocracia, a vontade geral de “subir na vida”, o culto à mercadoria...). Mas a idéia de aceitar a marginalização vem se tornando cada vez mais sedutora. Gera em mim, mais que a vertigem, o desejo da queda.
Meço distâncias, peso as penas e penso, todas as noites, em pedir divórcio da normalidade.
agosto de 2014
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